sábado, 8 de novembro de 2008

Como estou me tornando professora

Meu nome é Verônica de Lima Mittmann, nasci na cidade de Tramandaí/RS, em 27 de setembro de 1983, com pouco mais de um ano vim morar em Osório com meus pais e a minha irmãzinha recém-nascida. O que lembro da minha infância é das brincadeiras com a minha irmã, sempre gostei de plantas e animais, por isso desde pequena já gostava de cultivar e de andar por lugares onde houvesse árvores e grama, me lembro que me sentia muito bem nestes lugares.
As letras despertavam muito o meu interesse e quando aprendi as primeiras letras, adorava juntá-las para formar palavras, mesmo com pouco nexo. As primeiras palavras que aprendi foram: ai, oi e ui, me lembro de ficar tentando formar frases com estas palavras, o que me deixava bastante frustrada, mas era preciso esperar. A história que marcou a minha vida foi a das Sete Cabritinhas e me lembro até hoje do relógio onde estas se escondiam no decorrer da história.
Meu sonho na época de criança era ser professora, me lembro que reunia as crianças do bairro (as mais novas) para brincar de ser professora, como não tinha um quadro, acabei ganhando o forro do roupeiro da minha mãe, o problema era conseguir giz. O problema foi resolvido quando no Dia das Crianças ganhei uma caixa de giz para fazer desenhos, numa atividade na avenida no centro da cidade de Osório. É claro que não fiz os desenhos, e guardei a caixa para poder ser professora.
Foi aí que resolvi que para ser professora era preciso entregar folhas mimeografadas, no começo minha mãe até me deu um papel carbono e folhas de oficio, mas acabei gastando todas e era preciso conseguir mais, acabei descobrindo o “lixo” dos professores, onde encontrava matrizes usadas e folhas riscadas só de um lado. Meu pai também contribuiu trazendo folhas usadas do serviço, antes deles colocarem no lixo, ele pedia para trazer para casa, o que transformou meu quarto num depósito de folhas. Mas passar folhas no carbono não era a mesma coisa do que matriz, não tinha o mesmo cheiro que eu tanto gostava, fiz várias tentativas que não deram certo, como passar um paninho com álcool nas folhas já marcadas pela matriz e ir pressionando sobre as outras, tentei ferro de passar e como não deu certo, voltei ao papel carbono.
Me lembro ainda que era muito curiosa e que numa das épocas o meu sonho era aprender uma outra língua, então como já tinha ficha na biblioteca pública, pedia para a minha mãe me levar. Então, depois da aula e depois de limpar a casa, me sentava no sofá e ficava tentando aprender e decorar para falar, fazia frases e ainda consegui influenciar minha irmã, agora tinha alguém para falar uma outra língua.
Desta experiência pouco aprendi das outras línguas, mas nunca mais tive a mesma sensação de prazer, quando pude na escola ter um professor para me ensinar. Aprender outras línguas deixou de ser atividades lúdica para se tornar uma atividade de cobranças...
Adorava ainda construir coisas, quando não podia ter um determinado brinquedo, ia lá e tentava construir, um livro que me ajudou muito nesta época, foi a coleção (que li inteira) dos Escoteiros Mirins, construía desde roupas para bonecas, as bonecas, a casinha da boneca (de restos de madeira retirados de um lugar onde eles colocavam no lixo e pregos), tentei construir patins, máquina de escrever, um avião...claro que poucos funcionaram, mas era muito prazeroso.
Quando entrei na catequese, com aproximadamente 11 anos, recebi uma proposta de ajudar as professoras de uma creche, eu exercia esta atividade nas tardes. Após limpar a casa junto com a minha irmã, nós íamos dar aula, claro que com tudo preparado antes e os devidos papéis passados no carbono, e era muito legal, lia para as crianças, conversava com elas, levava para brincar no jardim. Como estavam faltando professoras, acabamos assumindo uma turma. Fiquei fazendo este trabalho durante uns dois anos.
Quando entrei para o segundo grau, já pensava que precisava arrumar um emprego para ajudar em casa e para poder continuar os estudos quando já não pudesse contar com a escola pública. Consegui um emprego nos verões, nos quais eu trabalhava dezesseis horas, morando com a minha irmã na casa dos patrões, mas como ganhava muito pouco não daria, certamente, para pagar uma faculdade. Por conhecer poucas pessoas influentes acabava não conseguindo empregos fixos, somente estes de verão.
O segundo grau acabou e muitas das minhas colegas puderam ir para a faculdade e eu precisava desesperadamente conseguir um emprego. Em dezembro de 2001, terminei o segundo grau, e para conseguir dinheiro fazia crochê em casa, ajudava a minha mãe a limpar casas quando aparecia, ou meu pai a cortar grama.
Em março deste ano houve um concurso do estado, fiz as provas e fiquei dentro das vagas, mas não me chamavam, fiz o concurso no município de Imbé e tirei o segundo lugar, mas também não me chamaram. Fui, neste verão, de novo trabalhar na praia, deixando um namorado que tinha nesta época, pois precisaria ficar três meses fora de casa. Nesta época consegui o direito de tirar uma folga a cada quinze dias e trabalhava 16 horas diárias.
No outro ano fiz um concurso em Tramandaí mas tirei o sexto lugar, e não fiquei dentro das vagas. Fiz também o concurso de Xangri-Lá, no qual passei bem. Como não me chamaram ao final deste ano, voltei a trabalhar na praia. Mas ficar em casa estava ficando bastante difícil, apesar de me inscrever em vários lugares, não conseguia emprego e comecei a pensar que o problema estava em mim.
Sei que, ao realizar as provas de Xangri-Lá, tive um crise de ansiedade e tive de me dividir, uma parte de mim tinha de realizar as provas, a outra tinha de cuidar para eu não desmaiar, algo que começava a ser freqüente nos meus desafios. Fui trabalhar, como havia dito, em Tramandaí, morava num depósito e tentava me dopar com maracujá, pois tinha crises de pânico muito freqüentemente. Em 2004 fui chamada neste concurso e sabia que talvez não passasse nos testes de saúde, por causa da síndrome do pânico.
Felizmente fui aprovada e comecei a trabalhar. Este emprego marcou uma nova etapa na minha vida, agora poderia sonhar! A primeira conquista foi um computador, já que sabia que seria necessário para fazer a faculdade. Neste mesmo ano me inscrevi no vestibular e utilizei o Enem, acabei entrando no curso de pedagogia em 2005, conseguindo 50% de bolsa pelo Prouni.
Neste tempo, aprendi muitas teorias de aprendizagem que pretendo colocar em prática. Aprendi a controlar minha ansiedade e estou com muitas perspectivas para o futuro, tenho vontade de fazer uma pós-graduação na área da aprendizagem ou filosofia e trabalhar como professora numa escola pública.

4 comentários:

Anônimo disse...

Acredito que a cada dia você se torna melhor do que já és, como colega e amiga lhe digo que és muito esforçada, estuda, acredita e realiza sonhos, parabéns pelo teu esforço, continues assim. Te desejo muitas felicidades em sua vida. Bjus Josi

Anônimo disse...

a vida é cheia de obstáculos e cabe a nós superá-los, parabéns pelo teu esforço, sua garra de vencer na vida. Te conheço pouco, mas o suficiente para perceber que você é uma pessoa merecedora de tudo que conquistastes e muito mais. Boa sorte e seja feliz.

Anônimo disse...

Amigo não é aquele que te faz sorrir com a mentira,mas aquele que te faz chorar com a verdade.
Adorei o que tu escrevestes, desde pequena tu ja eras danadinha.
Muitos beijos de quem te adora.

Anônimo disse...

Te admiro muito, Veronica e sinto que crescemos muito nesta nossa jornada.