sexta-feira, 4 de julho de 2008

Minha história de vida

Meu nome é Priscila Sana, moro em Linha Padre Vieira no Caraá, estudei até o ensino fundamental lá mesmo, minha mãe me deu aula na 1ºsérie, eu reprovei - tive depressão por causa do nascimento de minha irmã. Já o ensino médio fiz aqui em Osório, na Rural, sempre fui muito agitada e bagunceira nunca prestei atenção.
Quando tinha 19 anos casei, fiquei morando ao lado da casa de minha mãe, parei de estudar, mas sempre quis voltar estudar, até que um dia tive a oportunidade de voltar a estudar - fazer o curso normal, aqui na Facos. Foi muito difícil, já que tive que alugar um apartamento com uma amiga e vim morar aqui deixando lá minha família e meu marido, era muito triste. Quando chegou o inverno ficou pior, todas as noites chegava molhada, até que meu pai disse que era para voltar a morar em casa. Então ele me trazia e me esperava até eu terminar, ele passou um ano assim.
O curso normal fez eu me apaixonar pela minha escolha, foi muito legal! Aprendi muito a prática, construir muito material utilizado agora na faculdade, as aulas procuravam nos ensinar a prática de ensino, as leitura eram na aula e após se construía material para a aprendizagem dos alunos. Um dia marcante: a professora de didática levou um documentário do Paulo Freire, mas nós não sabíamos quem era então todas as alunas saíram e não gostaram do mesmo, fiquei só eu e mais duas colegas. A professora enlouqueceu e disse que as meninas da pedagogia o adoravam, que era o mestre da educação e nós não dávamos valor, isso marcou muito. Após ela obrigou todas nós a ler o livro do Paulo Freire “Pedagogia da Autonomia”.
Desenvolvi meu estágio na escola na frente da minha casa, as professoras supervisoras foram me visitar me observaram e adoraram meu trabalho, assim me ajudaram a estar aqui hoje fazendo faculdade. Já estou no meu último ano de faculdade e escrevendo este trabalho me emociono, pois não me vejo fora do contexto escolar. Estou meio “louca”, minha vida é muito corrida, eu trabalho com uma turma de 3ºsérie (vivo por eles), cuido de minha casa e meu marido, faço seis disciplinas na faculdade, uma de estágio, prestei uma banca para poder me formar no final do ano.
Sou uma pessoa sensível, que gosto de andar rodeada de amigos, minha família é muito unida, meu pai é meu ídolo, meu marido não mede esforços para me ajudar a realizar meu sonho, meus alunos são pessoas muito especiais para mim. Nossa relação é de profunda amizade, onde os sentimentos e emoções fazem parte de nossa sala de aula no dia a dia.

PRISCILA SANA

Minha história de vida

Entrei na escola com 06 anos, onde eu estudava não havia pré-escola, os alunos entravam direto na 1° série, era uma escola que ficava na zona rural, pequena, e que não existe mais.
Nunca esqueci daquele local, as classes eram inteiras como um banco de igreja, sentávamos todos juntos.
Lembro do 1° dia de aula, que a professora passou a letra inicial de cada nome, para que nós enfeitássemos com bolinhas de papel crepom, e assim passaram 5 anos naquela escola, e eu nunca reprovei, na segunda série tive problemas com a professora, pois ela era muito brava, e tínhamos um tremendo medo. Um dia, amedrontada, não quis pedir para ir ao banheiro, e fiz xixi nas calças, todos riram, fiquei com vergonha e não queria mais ir para a escola.
A escola oferecia ensino somente até a 5° série, para continuar teria que me deslocar para outro município, que ficava uns 8 quilômetros do lugar onde eu morava, não havia transporte, a solução seria ir de bicicleta. Então meu pai achou melhor que eu parasse com os estudos por um tempo, e ficasse em casa ajudando a minha mãe. Eu chorava dia e noite, lembro-me do lugar onde me escondia para chorar, mas de nada adiantou o meu choro.
Só depois de muitos anos voltei a estudar, trabalhava durante o dia e fazia o supletivo a noite, então me formei no ensino fundamental e médio, logo após fiz o vestibular, comecei a faculdade e estou me formando.
Sei que foram muitos dias de sufoco, pois tive um ensino fraco, não fiz magistério, e fui aos poucos adquirindo conhecimento, e nunca reprovei. Levarei comigo vários conhecimentos que adquiri aqui na FACOS, e grande gratidão por professores que me ajudaram a chegar até aqui, e mágoas de alguns que não me compreenderam quando eu estava precisando em momentos difíceis da minha vida, mas aqui estou hoje contando a minha história de vida, a qual acredito ter sido ótima: amo o que faço, meus alunos são um pedaço de mim, graças a eles estou aqui.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Morro da Borússia

Minha alma tenta escalar o céu que tanto dista
lá no sem fim do espaço interminável e oco
eu subo da chapada ao vértice da crista
como a névoa que sobe e é nuvem pouco a pouco.

De cima da montanha espraio ao longe a vista,
de herege ou de pagão, de atribulado ou louco.
Este morro em Osório já foi jóia de ametista
e ante meu amor tudo isto ainda foi pouco.

Muchoqueiros em flor, desabrochando em cachos
flamejantes de luz aos borbotões de sangue
desfilam em filões desfiladeiro abaixo.

E eu só, coração abandonado e aflito
entre forças iguais me equilibro exangue
entre tu, flor da serra, e os astros do infinito.

Miltom Gonçalves Ferreira dos Santos

Minha vida pregressa de estudante

Quando me lembro das minhas primeiras idas à escola bate-me uma profunda tristeza. Era a muito custo e só acompanhado que decidia vencer as poucas quadras que distavam a escola da casa onde eu morava em Tramandaí.
Mas, como diz o ditado: nada é tão ruim que não possa piorar. Após a morte de meu pai fui mandado para um internato em Porto Alegre. Para mim, era um lugar horrível: à distância da família, os muros altos, as paredes frias, aliadas as sempre ríspidas imposições disciplinares daqueles que chamávamos “irmãos”, em nada contribuíam para desenvolver uma relação de prazer com minha estada ali.
É claro que, principalmente, naquela época, quando direitos humanos eram uma expressão pouco conhecida, eu não tinha escolha, havia de me submeter aos maus tratos para que estes não piorassem.
Ora, se tinha de me comportar, a melhor maneira era ficar quieto, estudando, lendo, pensando, sonhando.
Durante a minha estada, primeiramente, nesta escola, dos então chamados primário e ginásio, encontrei professores com os mais diversos comportamentos,(é importante lembrar aqui, que o número de professores homens, era, então, nos anos 70, maior do que é hoje). Devo destacar um deles, no entanto, por suas atitudes ríspidas e ameaçadoras. Sabedor que era das punições físicas a que éramos submetidos pelo “irmão” disciplinador , era com estas que nos transformavam em estátuas ouvintes. A aula dele, que era matemática, transcorria em um silêncio sepulcral.
Além destas circunstâncias, que alego pesarem em minha defesa, minha família considerava a educação escolar e o são estudo fundamentais para a felicidade no futuro, portanto, condições necessárias, até mesmo, para ser aceito em seu seio.
No que tange, entretanto, à ascensão social a partir do suporte escolar, salvo meu pai e minha irmã mais velha, todos os outros componentes, encontravam na vida a melhor “escola”.
Meu passado escolar relacionado com todos os valores (tão “sutilmente” impostos) citados acima, transformaram minha existência em uma eterna dúvida Sheakespereana: “To be or not to be?” Em decorrência disto e com a diminuição das minhas escolhas, com o passar do tempo, minhas opções passaram a ser resultado da total falta destas, e isto passou a ser tão válido para a escolha do cardápio, quanto o foi para a escolha da profissão.
Assim, quando decidi voltar a estudar, na falta de outra mais viável na ocasião, escolhi o magistério. Imaginei que meu pretenso acúmulo de conhecimento fosse competência suficiente para ensinar. Então, instigar a curiosidade dos alunos através de uma falsa superioridade cultural, representou para mim, tal como havia, para meus professores, uma forma interessante e exitosa de lecionar. É claro que logo percebi que se não os transformasse em estátuas ouvintes como faziam comigo, meus alunos teriam tanto a me ensinar quanto eu a eles.


MILTOM GONÇALVES FERREIRA DOS SANTOS