terça-feira, 1 de julho de 2008

Minha vida pregressa de estudante

Quando me lembro das minhas primeiras idas à escola bate-me uma profunda tristeza. Era a muito custo e só acompanhado que decidia vencer as poucas quadras que distavam a escola da casa onde eu morava em Tramandaí.
Mas, como diz o ditado: nada é tão ruim que não possa piorar. Após a morte de meu pai fui mandado para um internato em Porto Alegre. Para mim, era um lugar horrível: à distância da família, os muros altos, as paredes frias, aliadas as sempre ríspidas imposições disciplinares daqueles que chamávamos “irmãos”, em nada contribuíam para desenvolver uma relação de prazer com minha estada ali.
É claro que, principalmente, naquela época, quando direitos humanos eram uma expressão pouco conhecida, eu não tinha escolha, havia de me submeter aos maus tratos para que estes não piorassem.
Ora, se tinha de me comportar, a melhor maneira era ficar quieto, estudando, lendo, pensando, sonhando.
Durante a minha estada, primeiramente, nesta escola, dos então chamados primário e ginásio, encontrei professores com os mais diversos comportamentos,(é importante lembrar aqui, que o número de professores homens, era, então, nos anos 70, maior do que é hoje). Devo destacar um deles, no entanto, por suas atitudes ríspidas e ameaçadoras. Sabedor que era das punições físicas a que éramos submetidos pelo “irmão” disciplinador , era com estas que nos transformavam em estátuas ouvintes. A aula dele, que era matemática, transcorria em um silêncio sepulcral.
Além destas circunstâncias, que alego pesarem em minha defesa, minha família considerava a educação escolar e o são estudo fundamentais para a felicidade no futuro, portanto, condições necessárias, até mesmo, para ser aceito em seu seio.
No que tange, entretanto, à ascensão social a partir do suporte escolar, salvo meu pai e minha irmã mais velha, todos os outros componentes, encontravam na vida a melhor “escola”.
Meu passado escolar relacionado com todos os valores (tão “sutilmente” impostos) citados acima, transformaram minha existência em uma eterna dúvida Sheakespereana: “To be or not to be?” Em decorrência disto e com a diminuição das minhas escolhas, com o passar do tempo, minhas opções passaram a ser resultado da total falta destas, e isto passou a ser tão válido para a escolha do cardápio, quanto o foi para a escolha da profissão.
Assim, quando decidi voltar a estudar, na falta de outra mais viável na ocasião, escolhi o magistério. Imaginei que meu pretenso acúmulo de conhecimento fosse competência suficiente para ensinar. Então, instigar a curiosidade dos alunos através de uma falsa superioridade cultural, representou para mim, tal como havia, para meus professores, uma forma interessante e exitosa de lecionar. É claro que logo percebi que se não os transformasse em estátuas ouvintes como faziam comigo, meus alunos teriam tanto a me ensinar quanto eu a eles.


MILTOM GONÇALVES FERREIRA DOS SANTOS

Um comentário:

Anônimo disse...

legal tua história e tuas experiências. Teu texto é emocionante e instigante, acredito que serás um professor deste feitio e poderás tornar o aprendizado bem mais prazeroso e menos imposição para muitas crianças.